O levantamento aponta que o varejo perde 39,8% em numerário, 32,4% em cartões de crédito e 27,7% em PIX tornando a conciliação independente prioridade estratégica para reduzir perdas e proteger dados
À medida que o varejo brasileiro se torna mais digitalizado, cresce a demanda por ferramentas que ajudem empresas a controlar suas transações financeiras com precisão. Nesse cenário, plataformas de conciliação bancária e de meios de pagamento se tornaram essenciais para evitar perdas, identificar fraudes e garantir previsibilidade no fluxo de caixa.
Mas um novo debate vem ganhando força entre especialistas do setor: a independência dos conciliadores e os riscos de entregar dados estratégicos a empresas que também atuam como adquirentes ou intermediadoras de pagamento.
Algumas soluções de conciliação disponíveis no mercado pertencem a grupos que também operam como adquirentes. Para especialistas, esse modelo pode gerar conflitos de interesse, já que o conciliador passa a ter acesso a dados sensíveis, como taxas negociadas, volumes transacionados e repasses, que poderiam ser usados comercialmente.
“Quando o conciliador está vinculado ao mesmo grupo que o meio de pagamento, a empresa perde autonomia para negociar. É como mostrar suas cartas antes de sentar à mesa”, afirma Célio Boavista Oliveira, CEO e Founder da Boavista Tecnologia.
Dados como ativos estratégicos
Em um ambiente de concorrência acirrada, os dados financeiros deixaram de ser apenas registros contábeis, passaram a ser ativos estratégicos. Saber quanto se paga em taxas, onde há divergências ou quais canais geram mais perdas permite às empresas tomar decisões mais assertivas e negociar com mais força.
Por isso, cresce a busca por plataformas independentes, que atuam como terceiros neutros na conciliação de transações. Essas soluções não têm vínculo com bancos, adquirentes ou gateways, o que garante maior transparência e segurança na gestão dos dados.
Além disso, com a multiplicação dos meios de pagamento como PIX, carteiras digitais, boletos e splits, a complexidade da conciliação aumentou. Plataformas que conseguem integrar múltiplas fontes e oferecer uma visão consolidada ganham relevância.
Dados da ABRAPPE reforçam o alerta
De acordo com a pesquisa mais recente da ABRAPPE (Associação Brasileira de Prevenção de Perdas), em parceria com a KPMG, as perdas financeiras no varejo estão distribuídas entre diversos meios de pagamento, com destaque para:
– Numerário (dinheiro falso, roubo, furto): 39,78%
– Cartão de crédito: 32,39%
– PIX: 27,68%
– Cartão private label: 25,04%
– Crediário: 20,98%
– Cartão de débito: 17,91%
Esses números evidenciam a urgência de uma conciliação eficiente e imparcial, capaz de identificar vulnerabilidades em cada canal e proteger as empresas contra perdas significativas.
Tendência de mercado
A discussão sobre independência na conciliação financeira se insere em um movimento mais amplo de governança de dados e compliance financeiro. Empresas estão cada vez mais cautelosas sobre quem acessa suas informações e como elas são utilizadas.
Para especialistas, o futuro da conciliação passa por três pilares: segurança, neutralidade e inteligência de dados. E nesse contexto, a independência do conciliador pode deixar de ser uma vantagem competitiva para se tornar uma exigência estratégica.